O texto questiona valores sociais, governos, crença e indica que o mundo deve ser enfrentado na forma como nos é apresentado.
O jovem Cândido, protagonista que dá nome ao título do livro, vide como agregado no castelo do barão Thunder-ten-Tronckh, em Vestefália, província na Alemanha, e tem o mestre Pangloss como o responsável por ministrar os ensinamentos filosóficos que, certamente, ofereceriam as condições psicológicas para o enfrentamento do mundo.
Acidente que altera o destino
Os ensinamentos do preceptor Pangloss fizeram Cândido acreditar que tudo no mundo está encadeado, para o melhor, contudo, este conceito começou a ser questionado a partir do momento que ele foi expulso do castelo, quando o barão surpreendeu sua filha Cunegundes aproximar-se de Cândido deixando cair um lenço.
O jovem o recolheu e ela tomou-lhe, inocentemente, a sua mão. O rapaz beijou sua mão e, em seguida, suas bocas se encostaram, seus joelhos tremeram e o compromisso perpetuou-se pelo resto das suas vidas.
Cândido foge e segue os ensinamentos otimistas de Pangloss, afirmando que tudo estava bem, apesar do acidente.
O autor sustenta a filosofia com ironia e sutileza necessária a manter-se ileso de possíveis condenações próprias à época.
A saída de Cândido do castelo e o distanciamento do mestre Pangloss promoveram oportunidades para convivências e questionamentos filosóficos, com uma velha que o abrigou, e, também, com o sábio Martinho.
Rota do conhecimento
Voltaire fez o protagonista rodar o mundo, e deixa o leitor perceber as diferenças entre a Europa, países da América do Sul e em especial o território Inca.
Riqueza
No Eldorado, Cândido encontra aceitação e riqueza necessária a enfrentar as vicissitudes que o mundo havia lhe reservado e sinaliza, sutilmente, discordância à filosofia ensinada por Pangloss.
“isto é bem diferente de Vestefália e do castelo do senhor barão; se o nosso amigo Pangloss visse Eldorado, nunca mais diria que o castelo de Thunder-ten-Tronckh era o que havia de melhor sobre a terra; sem dúvida, é preciso viajar.”
Ato de fé rejeitado
Em seguida começa a ouvir os pensamentos filosóficos do sábio Martinho, contrários aos do seu antigo mestre.
Os acontecimentos que sucederam o terremoto que destruiu boa parte da cidade de Lisboa em 1755, serviram de base para questionamentos sobre a violência desembestada à época na Europa.
Ficou decidido um auto-de-fé, que incluiu o sacrifício de pessoas queimadas vivas, para agradar a Deus e minimizar a fúria da natureza.
Voltaire bate na igreja católica com veemência e mostra através da sobrevivência dos sacrificados, no auto-de-fé, que Deus rechaçou a oferenda.
Ceticismo
Ao encontrar um velho turco, que não se envolve com absolutamente nada a não ser produzir alimentos para manter a família, Cândido entra em novo conflito filosófico.
Ao final, Cândido questiona o otimismo de Pangloss, a astúcia de Martinho e o ceticismo do velho turco e conclui referindo-se a uma provocação do antigo mestre:
“isto está bem dito, (…), mas é preciso cultivar nosso jardim.”
Cândido é um texto atual e de qualidade primorosa!
François-Marie Arouet (Voltaire)
Nasceu na França em 1694 e ficou conhecido pelo pseudônimo de Voltaire.
Filósofo iluminista é conhecido pela acuidade na defesa das liberdades civis e religiosas.
Escreveu nas mais várias formas literárias.
Sua obra influenciou importantes decisões políticas a exemplo da Revolução Francesa.
Referência bibliográfica
Voltaire, 1694-1778.
Cândido / Voltaire; tradução Maria Ermantina Galvão. – 3ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2003 – (Voltaire vive)
Título original: Candide
163p.
ISBN 85-336-1727-5
1. Romance francês. 2.Sátira francesa. 3. Voltaire, François Marie Arouet de, 1694-1778. I.Título.II. Série.
(R)