Múltipla Escolha
– Lya Luft

Indignação, possivelmente, é a palavra mais adequada para descrever o ensaio escrito por Lya Luft.

O título, Múltipla Escolha, insinua a condição do ser humano em escolher o seu destino.

O texto é abrangente, instigante e provocativo, contudo, não apresenta sugestões para a maioria das questões sociais referidas.

Oferece posicionamentos a respeito das relações, tendo como pano de fundo a hierarquia da pirâmide familiar.

Desabafamento e autoridade familiar

autoridade-familiar-1A autora pontua a maioria dos temas que angustia a sociedade brasileira, com ênfase na ausência do exercício da autoridade familiar, e questiona ações equivocadas nos discursos sobre direitos humanos, ao colocar a sociedade como responsável pelos desvirtuamentos de valores éticos.

 

Múltipla Escolha se apresenta como um discurso de desabafo, diante do descontentamento por ausência da ética nas relações, necessária à formação de valores, que contribuem para o encontro com a esperada e remota justiça social.

 

Ausência de percepção

Os temas abordados pela autora são cotidianos e conhecidos, porém, muitos dos valores distorcidos já se encontram arraigados nos comportamentos sociais e, muitas das vezes, não classificados ou impercebíveis como distorção.

 

“É estranho pensar que tudo tem sua importância: o modo como levo o copo d’água, o jeito com olho o meu filho, dirijo meu carro, escrevo meu texto, prendo o botão da camisa com o cheiro da pessoa amada, cavo minha cova ou como uma fruta. Tudo modifica o mundo, tudo depende (em parte) de mim.”

Sentimento em vez de artifício

cirurgia-plastica-1“E mesmo que se possa manter, com vários recursos, uma aparência boa em qualquer idade, nenhum artifício, por mais hábil que seja, substitui uma mente arejada, a alegria de viver, e o prazer das coisas.”

O texto merece ser visto como um retrato social que concentra atitudes que ultrapassam direitos e deveres.

Entretanto, sabe-se que muitos dos que se dedicaram à procura do mundo perfeito terminaram se decepcionando com o resultado.

A humanidade é mutável e os valores variam de sociedade para sociedade.

É só ver as notícias divulgadas de outras civilizações para entender que o feio, ruim e extravagante para um povo pode ser belo, bom e normal para outros.

Lya Luft

lya-luft-1Começou a carreira em 1980, aos 41 anos, com a publicação do romance As parceiras.

Escreveu A asa esquerda do anjo (1981), Reunião de família (1982), Mulher no palco (1984), O quarto fechado (1994), Exílio (1987), O lado fatal (1988), A sentinela (1994), O rio do meio (1996), Secreta mirada (1997), O ponto cego (1999), Histórias do tempo (2000), Mar de dentro (2002), Perdas & Ganhos (2003), Pensar é transgredir (2004), Histórias de Bruxa Boa (2004) além de outros títulos.

Formada em letras anglo-germânicas e com mestrado em Literatura Brasileira e Linguística Aplicada, foi professora de linguística de 1970 a 1980.

Atuou como tradutora de várias obras de autores consagrados, como Virginia Woolf, Günter Grass, Thomas Mann e Doris Lessing.

Referência bibliográfica

Luft, Lya
Múltipla escolha / Lya Lu
ft. – Rio de Janeiro: Record, 2010.
189p.
ISBN 978-85-01-08952-6
1. Luft, Lya, 1938-. 2. Ensaio. I. Título.
(R)

Um comentário

  1. Gosto muito de seus comentários sobre os livros lidos….possuem uma visão bem suscinta do tema tratado e com um leveza bastante agradável……voce é o cara….

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