O Processo
– Franz Kafka

o-processo-2A crítica metafórica, escrita por Franz Kafka, traz pitadas proféticas dos excessos burocráticos da justiça e as agruras dos regimes totalitários.

 

O acusado

A história de Josef K., funcionário de uma instituição financeira, apresenta momentos de alucinações e se aproxima de uma realidade, cruel, vivida por um jovem acusado – sem saber do que – por uma justiça burocrática, incompreensível, autoritária, perdulária e inacessível.

A narrativa aborda a insatisfação feminina, diante da forma como as mulheres são tratadas pela sociedade.

A mulher do oficial da justiça, cuja casa em que mora serve para a realização de reuniões de interrogatórios, mostra-se insatisfeita e disposta a ir para qualquer lugar com o protagonista da história.

Josef K., em visita à casa do oficial da justiça, flagrou o estudante de direito Berthold aguardando a mulher do citado funcionário, para levá-la até o juiz de instrução, objetivando manter relacionamentos amorosos.

A enfermeira Leni, outra mulher da história, cuida do advogado responsável pela defesa do processo de Josef K., e se oferece a ele. Sentou-se em seu colo, no primeiro dia que o conheceu e mostrou-se disposta a ajudá-lo.

O leitor fica sem saber se as atitudes femininas, relatadas por Kafka, tiveram a intenção de refletir a realidade à época ou se o texto aflora uma percepção, equivocada, da sua autoestima.

Em momentos de delírios, Josef K., ridiculariza a justiça.

Preguiça, ausência de controle e suborno

Afirma que a falta de investigação ou a interrupção dela ocorria por preguiça, esquecimento e medo característico dos funcionários públicos.

Contrapõe-se ao relatar que a continuidade das investigações poderia ocorrer para forçar a oferta de suborno, por parte do acusado.

Cita que o funcionário responsável pela negociação do suborno vestia-se bem, por recomendação dos colegas, para facilitar o desempenho na tarefa. Ou seja: a empáfia criada pela vestimenta induzia a elevação do valor do suborno.

O autor refere-se à justiça com severidade. Em algumas situações, expõe e castiga os funcionários que não desempenham as tarefas de forma eficaz. Dois guardas são chicoteados pelo espancador, por não cumprirem, adequadamente, as tarefas.

A capacidade do autor de dizer e desdizer, afirmar e contradizer, intuir e desentender chega a ponto de descrever cenas não ligadas diretamente à história, só para levar o leitor a divergir do que já havia concordado.

Conveniência e compreensão

Afirma que as nossas opiniões, muitas vezes, são expressões do desespero.

Chama a atenção para o fato de nos pronunciarmos a respeito de determinadas coisas conforme as nossas conveniências.

Kafka é terrível! Leva o leitor para onde ele quer, em seguida, o devolve à sua própria consciência ao afirmar, com maestria.

“A compreensão correta de uma coisa e a má compreensão desta mesma coisa não se excluem de todo”.

O livro é assim!

Quando se imagina que a solução foi justa, de justiça, ocorre o pior: condenam e matam um homem que não sabe do que foi acusado, sem direito a defesa.

A busca incessante das suas verdades o leva a sacrifícios da própria consciência.

Trata-se de um clássico da literatura mundial.

Franz Kafka

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O escritor Franz Kafka nasceu no dia 3 de julho de 1883, em Praga e morreu, aos quarenta anos, de insuficiência cardíaca, no dia 3 de junho de 1924 em Klosterneuburg, Áustria.

Filho uma família judaica de classe média, seus pais Hermann Kafka (1852-1931) e Julie Kafka (1856-1934) eram comerciante.

A maior parte da população de Praga à época falava tcheco.

Era visível a divisão entre os que se expressavam em tcheco e alemão.

A língua era usada para fortalecer a identidade nacional.

Franz Kafka se expressava nas duas línguas, escrevia em alemão por considerar a sua língua materna.

Era o mais velho dos seis irmãos.

Georg e Heinrich, morreram antes do escritor completar sete anos e as irmãs Gabriele, Valerie e Ottilie morreram durante o holocausto, na Segunda Guerra Mundial.

Formação acadêmica

Kafka começou a estudar química, mas trocou o curso pelo de direito.

Formado em direito, fez parte, junto com outros escritores da época, da Escola de Praga. Esse movimento era basicamente uma maneira de criação artística alicerçada em uma grande atração pelo realismo, uma inclinação à metafísica, uma síntese entre a racional lucidez e um forte traço irônico.

Este estilo lhe rendeu o termo ‘kafkiano’ como algo complicado, tortuoso e surreal.

franz-kafka-e-ottilieKafka é considerado pelos críticos como um dos escritores mais influentes do século XX.

A maior parte de sua obra, como ‘A Metamorfose’, ‘O Processo’ e ‘O Castelo’, está cheia de temas e exemplos de alienação e brutalidade física e psicológica. A burocracia, as transformações simbólicas e os conflitos familiares são marcantes na obra do escritor.

Kafka preferia comunicar-se por cartas. Além de amigos próximos escrevia para a sua noiva Felice Bauer e sua irmã mais nova, Ottla Kafka.

 

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A mais famosa das cartas escrita pelo escritor foi dirigida ao seu pai, de mais de 100 páginas, nas quais ele reclama de ser profundamente afetado pela autoridade do pais.

Publicações

Apenas algumas das obras de Kafka foram publicadas durante sua vida.

Os trabalhos inacabados de Kafka, como os romances O Processo, O Castelo e O Desaparecido, foram publicados postumamente por Max Brod.

Kafka desejou que os seus manuscritos fossem destruídos após sua morte, contudo o amigo Max decidiu publicá-los.

Incansável leitor, leu Platão, Gustave Flaubert, Fiódor Dostoiévski, Franz Grillparzez e Heinrich von Kleist.

Atividades profissionais

franz-kafka-estatua-de-bronze-de-jaroslav-rona-em-pragaDepois de formado, trabalhou em uma companhia de seguros. Nesta época começou, no tempo livre, a escrever contos.

Com a herança de Hermann Kafka, seu pai, tornou-se sócio de Karl Hermann em uma fábrica de asbesto conhecida como Prager Asbestwerke Hermann & Co.

A Primeira Guerra e a doença

Kafka recebeu sua convocação para o serviço militar na Primeira Guerra Mundial, contudo, por considerarem o seu trabalho na companhia de seguros essencial para o governo, houve adiamento.

Posteriormente foi impedido de servir devido aos problemas de saúde associados à tuberculose, diagnosticada em 1917.

No ano seguinte, 1918, o Instituto de Seguros afastou Kafka devido à sua doença. Naquela época não havia tratamento eficaz obrigando-o a passar boa parte de sua vida em sanatórios.

Vida sexual

Kafka se relacionava com mulheres de forma ativa, contudo, apesar de desejar mulheres e sexo tinha pouca autoestima. Manteve relações íntimas com várias mulheres durante sua vida.

Conheceu Felice Bauer, uma parente do amigo Brod, com a qual se correspondeu durante cinco anos.

Ficou noivo de Julie Wohryzek, mas, apesar de os dois terem alugado um apartamento e marcando uma data para o casamento a cerimônia não chegou a acontecer, possivelmente devido às crenças sionistas de Julie, que defende o direito à autodeterminação do povo judeu. Hermann, pai do escritor rechaçadas a ideia.

Depois de Julie, Kafka se relacionou com a jornalista Milena Jesenská e com a professora Dora Diamant que terminou por influenciar o interesse do escritor pelo Talmude, livro considerado pelos judeus como sagrado.

Comportamento

Apesar de pouco empenho pelo esporte na infância, interessou-se, quando adulto, por jogos e atividades físicas, tornando-se um bom ciclista, nadador e remador.

Temia que as pessoas o achassem repulsivo física e mentalmente, contudo, os mais próximos percebiam um comportamento quieto e agradável, uma inteligência óbvia e senso de humor.

Para Pérez-Álverez, Kafka sofria de transtorno de personalidade esquizoide. Esse transtorno mantinha-o distante, individual e indiferente aos relacionamentos sociais.

Outros sugeriram que ele sofreu de um distúrbio alimentar e de anorexia nervosa que pode ter o levado à depressão.

A obra

Os contos foram primeiro publicados em periódicos literários, na revista bimensal Hyperion.

Escreveu Descrição de uma luta (1904), Preparativos para um casamento no campo (1907), Contemplação (1912), O desaparecido (1912), O foguista (1912), O veredicto (1912), A metamorfose (1912), O processo (1914), Na colônia penal (1914), Carta ao pai (1919), Um médico rural (1919), O castelo (1922), Um artista da fome (1922-24), e A construção (1923).

Referência bibliográfica

adc4d-oprocessoKafka, Franz. 1883-1924
O processo / Franz Kafka; tradução de Marcelo Backes. Porto Alegre:  L&PM, 2008.
403p.
ISBN 978-85-254-1565-3
1. Ficção  tcheca. I. Backes, Marcelo II. Título. III. Série.

(R)

 

11 comentários

  1. Kafka usa de seu mundo concreto e duvidoso para criar e desfazer conceitos. Kafka não é exatamente teórico mas ao mesmo tempo nos faz conceber milhões de visões de mundo.
    Excelente postagem ! parabéns, pela forma clara e verdadeira de como expressou sua visão do livro.

  2. Nossa, o post é um pouquinho “antigo”, mas tudo bem, eu posto o comentário mesmo assim, pois o livro exige isso. Um excelente e intrincado romance, cheio de metáfora e contradições. Kafka é um verdadeiro ventríloquo que não necessita de fios para manipular algo ou alguém em sua narrativa. Excelente post!

    Assim que eu vi a lista de livros ao lado reslovi favoritar o blog e até indicá-lo no meu blog. É até um pouco de pretensão indicá-lo aqui, mas sinto que tenho de fazê-lo:

    http://anima-vita.blogspot.com/

    Sinto que encontrei um lugar onde posso dividir opiniões e comentários!

  3. Todos temos nossas culpas, vivemos num processo profundo e minucioso. Acredito que o Tribunal seria a consciência de K. por isso não há a possibilidade da absolvição. K. vive em delírio nos tribunais itinerantes e insalubres com funcionários onipresentes e instâncias superiores ilusórias. Block, um velho comerciante decadente, perdido na sua insignificância e implorando o auxílio de um advogado doente e inerte.
    O fato de não sabermos do que somos acusados é o de menos, até porque somos tão individualistas que achamos sempre estar agindo corretamente e nos perdemos. Enfim, o processo é um enredo de nossas ações e a expiação delas.

    Um Forte abraço
    Ricardo

  4. Senti o mesmo que o Ricardo do comentário acima: o ´”Tribunal” é a consciência do Joseph K., por isso não existe a absolvição “real”, somente existem a absolvição ostensiva, sujeita à revisão a qualquer momento, e a protelação eterna.

    Ou ainda a saída oferecida pelo padre, a “fuga”, a aceitação do mito, a aceitação da culpa (conforme já lhe havia dito a mulher, olha aí o simbolismo, a mulher, encarnação do pecado na alegoria cristã) e não a absolvição pelo reconhecimento da inocência, mas sim o “Perdão Eterno” dos pecados inerentes à própria condição humana – perdão esse que requer a aceitação de que a nossa condição carrega, inerente a si, o pecado. Requer a aceitação do mito e da submissão. Da submissão de valores metafísicos e também materiais, já que a Igreja simboliza também o poder político e econômico.

    Em suma: Na cultura em que vivemos, nossa Consciência, incrustada de valores e princípios adquiridos ao longo das décadas, é um tribunal no qual não há mais absolvição real: apenas a absolvição ostensiva ou a protelação eterna são alternativas à condenação. Para evitar o julgamento, outra alternativa é viver o mito oferecido pelo padre. Ou insistir na inocência e ser massacrado pelo sistema, como insistiu em fazer o Joseph K.

    Talvez por isso ele era olhado com tanta estranheza pelos vizinhos na janela, lá no início do filme. Era “culpado” de seu crime de ser autêntico.

  5. Pela segunda vez assisti ao filme, porém, agora após ler a obra. Vejo dois aspectos: Um ligado à inacessibilidade à justiça, representada pelo jogo burocrático e incompreensível. Apesar de, ao que parece, K. ser um homem instruído não domina o processo, logo, submete-se àqueles que conhecem-no um mínimo, ou pelo menos acha que conhecem. O outro aspecto, aí sim, está ligado á mente de K., onde o processo é algo interno, que o prende nos meandros de sua psique ofuscada pelo orgulho, luxúria, etc. Joseph K. vê-se refém de sua própria lei interior.

  6. O tema é atualíssimo. Joseph K. não será absolvido por causa de sua consciência, mas por causa da nossa consciência, da coletividade que se cala diante de uma injustiça. Lembro-me de uma frase do Montesquieu, eminente jurista francês: “Uma injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos”.
    Só para lembrar, vivemos uma ditadura capitalista na sua fase mais cruel, a financeira, na qual aos bancos é-se permitido a usura sem que se dê aos seus clientes a possibilidade de escolha, ou seja, ou vai,ou racha. E o que tem isso a ver com Joseph K.? Tudo. Somos frágeis diante dos tecnocratas que se apoderam dia a dia dos cargos de comando. E o pior, qualquer um de nòs está sempre pronto a se tornar um deles, principalmente quando a conta bancária vem gorda no final do mês.
    A Imprensa, outro exemplo, é um tribunal “por excelência”, pois acusa e julga sem que o acusado possa se defender. Sendo assim, o contraditório e ampla defesa, insculpidos na Carta Política do Brasil (1988), não são exercidos. Ela, a imprensa, até se propôe ceder um espaço para o acusado, qualquer que seja, para falar e se defender, mas esse espaço não é propício, pois a parcialidade é a sua marca. Quando o sujeito pensa estar se aproveitando para falar e se defender, na verdade, ele se complica, pois as perguntas são inquisitoriais e capciosas e ardilosas, produzidas mais com o intuito de comprometer do que de absolver.
    O PROCESSO KAFKANIANO nos ronda dia e noite. Lembro de um grande criminalista que disse que ninguém é sujeito de bem, mas todo mundo está de bem.

  7. Pois é,Kafka em ''O Processo'' reencarna a burocracia por trás da lei quando Joseph K. ao ser acusado em um processo sem saber do que se trata ou o porque dele e de certo modo termina sem saber mesmo seguindo essa mesma burocracia fazendo-o ir de um lado a outro da cidade atrás de advogados que o ''ajudem'' a solucionar o caso.Mais do que uma crítica ao sistema jurídico de sua época,talvez mesmo seja uma metáfora para as ''confusões'' que o próprio autor tinha em relação a vida e as relações entre as pessoas que se manifestam de um modo difícil de solucionar do mesmo modo que o processo contra ele e toda a burocracia envolvida que não o deixa resolver o caso de uma vez!!

  8. Nossa consciência é como uma balança que se equilibra entre a razão e emoção pela busca da verdade. A religião, por exemplo, busca explicações pela fé e mito e a ciência pela razão. Buscamos explicação para tudo. A busca pelo sentido da vida quer pela razão ou pela religião seria a forma de preencher um vazio sem explicação dentro de todos nós que traz angústia e ansiedade. Essa angústia é uma dor inerente a todos os mortais, que seria o medo da morte e a consciência de que iremos morrer. Ninguém é livre dessa ansiedade que nos corrói. Todo sentimento no cérebro, obviamente, é expresso em forma de linguagem, através de frases, em que um sentimento bom pode ser expresso por uma frase positiva e um sentimento ruim por uma frase negativa. Ao buscarmos sentido para aquela dor o nosso cérebro fabrica frases, inconscientes e sem explicação lógica, mas que se justificam no emocional, como frases negativas de culpa. Nossa consciência é o juiz de um tribunal e os pensamentos negativos estão na forma do acusador. A acusação usa argumentos buscando nos culpar o tempo todo com frases que não podem ser explicadas pela razão, somente pela emoção, o que faria sentido à dor existencial que carregamos. Essas frases são facilmente neutralizadas por argumentos plausíveis de um bom advogado, nós mesmos fazendo a nossa defesa pela busca da verdade, com a lógica e o bom senso. Muitas vezes as frases da acusação nos traem em um primeiro momento e se parecem reais, mas que podem ser contrapostos pela nossa forma de pensar racionalmente evocando frases coerentes na forma da defesa, com argumentos comprovando a falsidade e desqualificando a acusação. As acusações vêm o tempo inteiro em nossas mentes, mas não damos atenção, pois aprendemos a ignorá-los pela falta de coerência (inexperiência do acusador ou pela maior experiência da defesa). Em um momento de fraqueza da mente ou ingenuidade da pessoa a defesa fica mais vulnerável a ataques, atraindo para si mais acusadores, neste momento não podemos cair na tentação de dar atenção a eles, pois a nossa defesa teria poucos argumentos para combatê-los, devendo se preparar melhor adiando para um próximo confronto. De qualquer forma a defesa que não é capaz de desqualificar o primeiro ataque da acusação com argumentos para combatê-la de imediato, dará poder a acusação e a próxima investida será mais forte e com mais argumentos, e o que inicialmente era sem sentido começa a se materializar como sendo verdade e cria-se a dúvida, e a batalha fica mais acirrada e poderá uma falsa acusação se tornar realidade. O juiz somos nós mesmos, a nossa consciência dando o veredito final do que seria a verdade, se acusação venceu a ficção se tornou realidade. O que acontece em nossa cabeça acontece com o Estado e a sociedade da mesma forma, uma explicação por algo e a busca por culpados. Em uma pessoa que se desconecta com a realidade assim como uma sociedade alienada se forma o palco perfeito para os acusadores.

  9. Nossa consciência é como uma balança que se equilibra entre a razão e emoção pela busca da verdade. A religião, por exemplo, busca explicações pela fé e mito e a ciência pela razão. Buscamos explicação para tudo. A busca pelo sentido da vida quer pela razão ou pela religião seria a forma de preencher um vazio sem explicação dentro de todos nós que traz angústia e ansiedade. Essa angústia é uma dor inerente a todos os mortais, que seria o medo da morte e a consciência de que iremos morrer. Ninguém é livre dessa ansiedade que nos corrói. Todo sentimento no cérebro, obviamente, é expresso em forma de linguagem, através de frases, em que um sentimento bom pode ser expresso por uma frase positiva e um sentimento ruim por uma frase negativa. Ao buscarmos sentido para aquela dor o nosso cérebro fabrica frases, inconscientes e sem explicação lógica, mas que se justificam no emocional, como frases negativas de culpa. Nossa consciência é o juiz de um tribunal e os pensamentos negativos estão na forma do acusador. A acusação usa argumentos buscando nos culpar o tempo todo com frases que não podem ser explicadas pela razão, somente pela emoção, o que faria sentido à dor existencial que carregamos. Essas frases são facilmente neutralizadas por argumentos plausíveis de um bom advogado, nós mesmos fazendo a nossa defesa pela busca da verdade, com a lógica e o bom senso. Muitas vezes as frases da acusação nos traem em um primeiro momento e se parecem reais, mas que podem ser contrapostos pela nossa forma de pensar racionalmente evocando frases coerentes na forma da defesa, com argumentos comprovando a falsidade e desqualificando a acusação. As acusações vêm o tempo inteiro em nossas mentes, mas não damos atenção, pois aprendemos a ignorá-los pela falta de coerência (inexperiência do acusador ou pela maior experiência da defesa). Em um momento de fraqueza da mente ou ingenuidade da pessoa a defesa fica mais vulnerável a ataques, atraindo para si mais acusadores, neste momento não podemos cair na tentação de dar atenção a eles, pois a nossa defesa teria poucos argumentos para combatê-los, devendo se preparar melhor adiando para um próximo confronto. De qualquer forma a defesa que não é capaz de desqualificar o primeiro ataque da acusação com argumentos para combatê-la de imediato, dará poder a acusação e a próxima investida será mais forte e com mais argumentos, e o que inicialmente era sem sentido começa a se materializar como sendo verdade e cria-se a dúvida, e a batalha fica mais acirrada e poderá uma falsa acusação se tornar realidade. O juiz somos nós mesmos, a nossa consciência dando o veredito final do que seria a verdade, se acusação venceu a ficção se tornou realidade. O que acontece em nossa cabeça acontece com o Estado e a sociedade da mesma forma, uma explicação por algo e a busca por culpados. Em uma pessoa que se desconecta com a realidade assim como uma sociedade alienada se forma o palco perfeito para os acusadores.

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